É certo, tudo era bom,
Mas a coisa desandou
Ficou tudo diferente
Do tempo que começou
Por intervenção humana
O que era bom acabou
Por serem muitas famílias
Residentes no lugar
Vivendo de agricultura
P’ra produção aumentar
Começou uma loucura
Daquelas matas estragar
Então os proprietários
Ofereciam de graça
Terra p’ra botar roçado
E o povo veio em massa
Queimando toda a madeira
E só se via fumaça
Verdadeiros mutirões
Para as matas explorar
Mediam grande extensão
Sem controle a derrubar
E depois o mato seco
Pondo fogo p’ra queimar
Havia pé de umburana
Falo com sinceridade
Que colônia de abelha
Tinha cinco e é verdade
Jandaíras destruídas
Fogo! Que calamidade!
Isso era em toda parte
Nessa rota de tropeiro
Queimadas p’ra todo lado
Aroeira e marmeleiro
Madeira grossa ficava
Em pedaços no braseiro
Todo mundo achando bom
Diante desse contraste
A mata virando campo
De árvore nem uma haste
É morte da natureza
Ninguém prevê o desastre
As terras, naquela época
Tão cobertas de madeira
Árvore com dez, quinze metros
Grossas, finas, em carreira
Caíam umas com as outras
Era aquela bagaceira
Assim metendo o machado
Sem dó e sem piedade
Cada um fez o que quis
Dono da sua vontade
Preparando o caminho
Da grande dificuldade
E assim continuou
Tudo foi se agravando
Ninguém tomou providência
Continuou o desmando
Quem viu ontem e vê hoje
Fica logo lamentando
Tudo ali funcionava
E só se via grandeza
Só que ninguém lamentava
O sofrer da natureza
Bichos morrendo e fugindo
De tanta fogueira acesa
Também disso foi culpada
A indústria do carvão
Que além de destruir
Aumentou a maldição
Os rios foram aterrados
Com grande poluição
P’ra findar a destruição
As levas de carvoeiros
Cortaram todas as árvores
Quixabeira e umbuzeiros
Queimando até as raízes
De todos os juazeiros
Cortaram hastes de linha
Madeira de construção
Cortaram de rolo em rolo
E enterraram no chão
Cobriram com terra e mato
P’ra transformar em carvão
Com a derrota das matas
O rio prejudicado
As chuvas trazendo terra
Ficando todo aterrado
Só sabe o que existiu
Quem conheceu o passado
Hoje a areia dos rios
Está toda impregnada
Pois pó preto de carvão
Chuva arrasta de enxurrada
Chegando dentro do rio
Com areia misturada
Com o rio poluído
Além de todo aterrado
Água ruim ficou pior
Com gosto de desagrado
Fazendo mal à saúde
Eis aí o resultado
Aí está o castigo
Todo mundo “paga o pato”
Lamentando o que foi feito
E a destruição do mato
Daquele tempo passado
Não resta nem um retrato
Com a extinção das matas
Tanto bicho exterminado
Fugindo p’ra todo canto
O que não morreu queimado
Como a bomba de Hiroxima
Deixando tudo arrasado
Trago esses comentários
E tudo o que foi falado
Sobre a devastação
Mas eu também sou culpado
Matei muitos passarinhos
Hoje sei que fui malvado
Atirei em gaviões
Arribação e peneira
Tinha vez que atirava
Somente por brincadeira
Sem pensar que estava errado
Agir daquela maneira
Ora armava uma arapuca
Ou preparava um quixó
Botava laço nos ninhos
Enforcando ali sem dó
Ave morta na postura
Filhote morrendo só
Com tanta devastação
A natureza sem vida
Só trouxe dificuldade
Mais sofrimento em seguida
O povo foi se afastando
Em busca de outra guarida
Começou a decadência
Com a saída do Major
E do Coronel Vicente
O dono do Recoló
E depois que se mudaram
A vida virou um nó
Fazendas foram vendidas
Fábrica de queijo fechou
A família dos BEZERR
Dali também se mudou
E os herdeiros BARBOSA
Todo mundo se arredou
E muitas outras famílias
Foram desaparecendo
Alguns porque se mudaram
Outros que foram morrendo
Mudar p’ra sobreviver
Não se queria querendo
Com a ausência do povo
Que no apogeu se firmava
Também desapareceu
Tudo o que representava
E todos os que bem serviam
Quando alguém os procurava
O resultado é que ficou
Difícil viver ali
E quem precisa de ajuda
Já não tem a quem pedir
Ficou um lugar bem triste
Sem meios p’ra se remir
Para melhor conclusão
Veja que mau resultado
O que é bom se escafedeu
E de pensar no passado
Fico triste a imaginar
Que está mesmo acabado
Que tempo bom que passou
Tempo que não volta mais
Só nos resta essa lembrança
Daqueles tempos atrás
Alguém ainda se lembra
Tempo bom dos ancestrais
Um tempo, se bem me lembro,
Não havia choradeira
Povo vivendo contente
Brincando à sua maneira
Violeiro e cantador
Divertindo a cabroeira