Economia Solidária e Consumo

Em recente debate (virtual) no curso de especialização em Gestão Pública e Sociedade, Maria de Lourdes Oliveira trouxe à tona a frase de Paulo Freire “A educação não transforma a sociedade. Ela transforma os indivíduos que são os sujeitos que transformam a sociedade”.

Lourdes aponta que “o ideário da Economia Solidária só começará a ganhar força a partir da transformação dos indivíduos, que os leve a mudanças de comportamento individual e coletivo, no sentido de se propor a mudanças na perspectiva de vida, de estabelecer novas relações sociais, onde o consumo ocorra mais para satisfazer necessidades básicas”.

Longe de querer estender este texto nos conceitos teóricos e práticas da Economia Solidária x Consumo, concordo com Lourdes em acreditar que a educação e transformação dos indivíduos são fundamentais. É preciso trabalhar a forma como os indivíduos se relacionam entre si e com o mercado (sem querer parecer capitalista), para que tenhamos uma transformação profunda.

Outra colega de turma, Sandra Maria Ferreira, sugeriu o texto “A marcha dos zumbis”, publicado no site Carta Maior. Um trecho me chamou a atenção, quando Najar Tubino descreve que “a felicidade é o valor central, o grande ideal celebrado sem tréguas pela civilização consumista. Cada vez mais mercado, cada vez mais estimulações, viver melhor, cada vez mais indivíduo, cada vez mais exigência de felicidade”.

O capitalismo promove o consumismo explicitamente. Não sou contra as pessoas buscarem os bens que lhe dão conforto, mas contra a exploração desenfreada e o consumo da substituição desnecessária por produtos mais modernos, os alimentos modificados… etc.

Vou compartilhar uma história familiar…

Fui tenente do exército durante nove anos. Meu pai foi militar de carreira.  Em uma conversa despretensiosa, falávamos sobre nossa felicidade, poder aquisitivo, projetos de futuro. Percebi então que ele pôde ser muito mais feliz – digamos, financeiramente estável e tranqüilo. Com um salário de tenente era possível construir mais (02 casas ao mesmo tempo, enquanto eu mal podia pagar um aluguel) e projetar o futuro com mais tranqüilidade.

Inicialmente pensamos ser apenas uma questão de poder aquisitivo. Mas descobrimos, ao longo da conversa, que o motivo era a oferta de produtos que a atualidade traz… a forte propaganda que nos leva a crer que somente seremos mais felizes se tivermos o celular mais moderno, o carro mais equipado, o apartamento mais luxuoso.

Para além disto, o capitalismo converteu produtos e processos originalmente solidários para algo do consumo. Posso exemplificar com os produtos naturais (que na época do meu pai eram os mais baratos) que são hoje mais caros.

Houve uma inversão. Exemplo prático: açúcar mascavo. Houve um tempo onde o açúcar cristalizado, industrializado, era o “chique”, e por isso, mais caro. Açúcar mascavo era considerado de qualidade inferior, e mais barato por conseqüência.

Na atualidade, o açúcar mascavo é mais caro (apesar de seu processo de fabricação ter menor custo) simplesmente porque um movimento originalmente voltado para o consumo de produtos mais saudáveis foi distorcido e transformou o açúcar mascavo no “chique”, e por esta razão mais caro.

Se pudermos ir além, e pensarmos no consumo (ou consumismo) como mola propulsora do capitalismo, encontraremos outros aspectos onde há uma distorção no sistema. Distorção essa em como compreendemos as coisas, as relações… e como foi dito no início deste texto, somente através da educação e da transformação dos indivíduos, podemos mudar nossa sociedade.

O vídeo sugerido abaixo aprofunda esta discussão, e traz outras reflexões sobre o consumismo e suas conseqüências.

3 comentários em “Economia Solidária e Consumo

  1. Boa reflexão Edson!
    A grande frustração que tenho é que as empresas utilizam dessa “falha” na sua mídia massiva, injetando na gente desejos que no final o sentimento que teremos é de falta.
    Agora o foco são as crianças que crescem com esse pensamento de felicidade e de viver bem. Não se vê mais pedir carrinho ou bola de futebol…e negocio são os mais caros, esses tem valor.
    Compartilhando no face!!!!!!

  2. Pois é Najane,

    No meu tempo de criança nós juntávamos dinheiro para comprar bolas de gude, ou para ir ao cinema. Agora são celulares, tablets, motocicletas, baladas…

    Não quero soar contra a tecnologia. Faz parte de nossa evolução, são instrumentos importantes. Mas, o consumo por consumo, e não por necessidade (para uso como ferramenta), é que me preocupa…

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