Este é o terceiro artigo deste blog em que abordo conceitos relacionados ao gerenciamento de riscos. A definição de “risco positivo” do primeiro artigo me levou a um animado e instrutivo debate com um colega de trabalho, Andrew Johnson: Todo risco positivo é uma oportunidade? Existem realmente riscos positivos?
Risco é um evento ou condição incerta que, se ocorrer, provocará um efeito positivo ou negativo em um ou mais aspectos do projeto, tais como escopo, cronograma, custo e qualidade (PMDBOK Guide, 5ª edição). Em outras palavras, é algo que pode acontecer e impactar o projeto, positiva ou negativamente. O risco, então, é algo que não podemos controlar se vai ou não acontecer. O que podemos fazer é atenuar seu efeito, ou criar planos de mitigação.
Uma oportunidade também é algo que não controlamos, uma possibilidade ou ocasião favorável. Mas, uma oportunidade não afeta obrigatoriamente o projeto – se afetar eu a tiver previsto, é um risco positivo.
Em síntese, risco positivo e oportunidade são parecidos pelas seguintes características:
- Representam um evento futuro, possível.
- Afetam positivamente o projeto, se ocorrerem.
O PMDPro estabelece que os riscos positivos se referem a riscos que nós mesmos geramos porque vemos uma oportunidade potencial, juntamente com um potencial de falha (A Guide to PMDPro v1.3).
Nós geramos?
Em um projeto financiado com recursos advindos do exterior, o risco de uma variação cambial favorável que leve ao aumento do valor recebido (em Reais) poderia ser visto como um risco positivo, mas não é algo que controlamos.
Da mesma forma, a participação mais objetiva e focada dos membros de uma comunidade, que permita que um processo de diagnóstico seja finalizado dois dias antes do prazo previamente planejado, fará com que “sobre tempo” no projeto, naquela atividade de campo. Outra vez, é algo que não controlamos.
Como um terceiro exemplo, a mobilização de uma comunidade para adotar uma metodologia de poupança coletiva pode gerar interesse em um número maior de pessoas do que o planejado – uma possibilidade de ampliar o impacto do projeto. Seria uma oportunidade apenas? Não… é um risco – pois se não tratarmos este interesse ampliado podemos sofrer um revés a partir da insatisfação da comunidade, e causar um desinteresse de todos.
Podemos concluir que o risco positivo é uma oportunidade que obrigatoriamente precisamos incorporar ao projeto, e que, se não aproveitada pode causar um efeito negativo no projeto.
Assim, a principal e substancial diferença é que, com relação à oportunidade, temos a opção de não aproveitá-la, ou de que seu acontecimento não afete o projeto. Enquanto que o risco positivo é algo que afetará, em maior ou menos escala, o projeto – e não podemos dizer não.
Abordando agora a segunda pergunta de nosso debate, será que existem realmente riscos positivos? O risco, ao se materializar, irá mudar o curso do projeto ou da atividade – exigirá um esforço prévio de uma estratégia para tratá-lo, bem como um esforço de adequação do projeto/atividade quando de sua ocorrência.
Se olharmos por este ângulo, todo risco causa um contratempo, uma mudança no curso do projeto. Será necessário investir tempo, recursos financeiros, recursos humanos, ou todos estes em combinados, para que o projeto permaneça em sua trajetória para o objetivo planejado.
O risco positivo pode até impactar positivamente (óbvio) um aspecto, atividade, objetivo, mas com certeza acarretará em impacto “neutro” ou negativo em outros aspectos.
Podemos concluir, então, que o risco positivo trará benefícios ou efeitos positivos aos aspectos do projeto (escopo, orçamento, tempo, qualidade) se for tratado da forma correta, e não temos a opção de não planejar seu tratamento . Porém, todo risco, positivo ou negativo, sempre causará uma “perturbação na ordem” do projeto.