Imagina na Copa

(texto também publicado no Promenino)

Este bordão tem sido falado desde que o Brasil foi eleito para sediar a Copa do Mundo 2014. O bordão girou em torno dos problemas de locomoção, violência, infraestrutura aeroportuária, lixo nas ruas (não apenas pela estética, mas pelas suas consequências, como alagamento de ruas e avenidas), entre outros.

Nos últimos meses, com a proximidade do evento, um turbilhão de demandas, solicitações, reclamações e manifestações têm vindo à tona, ligados a problemas muito mais amplos e complexos de nosso Brasil.

Independente da fonte ou precisão dos valores apresentados pleiteia-se que os bilhões investidos em aeroportos, ruas e avenidas, e estádios, poderiam ter sido aplicados na saúde, educação e segurança do nosso país.

O evento trouxe à tona que não nos faltam recursos, mas que são mal administrados e direcionados. Longe de mim me posicionar contrário a estas reivindicações, e acredito que o evento pode sim ser uma boa oportunidade de unir a sociedade e tornar visível esta conclusão a que chegamos… ou que se prova em números.

Porém, me preocupam ainda mais os problemas que serão catalisados pelo evento em si: mais especificamente a vulnerabilidade de nossas crianças e adolescentes ao trabalho infantil. A Copa irá ampliar o espaço para exploração de crianças em trabalhos mais corriqueiros e que nos passam despercebidos, como guardadores de carros, vendedores de ruas, até as formas mais cruéis de trabalho: a exploração sexual.

A Copa vai acontecer com ou sem boicotes e passeatas. E, ao que me parece, estaremos desperdiçando toda nossa energia em desejar que ela nunca tivesse acontecido.  Mais que isso, talvez percamos o foco e venhamos a pleitear por mudanças que não acontecerão durante ou por causa da Copa.

Às vésperas do jogo de abertura, nosso foco deveria ser como proteger nossas crianças, adolescentes e nossa sociedade durante os 32 dias do evento, e as semanas que se seguirem, onde o turismo ainda estará fervilhando.

Com relação aos gritos de mais hospitais, mais segurança, mais educação, que não percamos o fôlego quando as próximas eleições (que estão próximas) chegarem.

Devemos focar no evento e nos riscos que representa e amplifica para nossa sociedade, para nossas crianças, durante sua execução. Se nossas crianças já estão expostas à exploração e violência “hoje”, imagina na Copa!

Um comentário em “Imagina na Copa

  1. Imagina na copa, ou melhor nem quero imaginar. Há tantas coisas desordenadas que tenho até receios de pensar o turbilhão de problemas durante e pós copa.

    Parabéns pelo texto.

    Abraços

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