“If you repeat a lie often enough, people will believe it,
and you will even come to believe it yourself”.
Joseph Goebbels
A citação acima e a do título, atribuídas a Paul Joseph Goebbels, nunca estiver tão presentes em nosso cotidiano. Porém, nos tempos atuais, é muito mais fácil, barato, e rápido disseminar uma mentira e “torna-la” verdade do que nos tempos do Reich.
O custo da mentira
As mídias sociais e aplicativos como o WhatsApp facilitaram e aceleraram o processo de disseminação de mentiras (e verdades, às vezes), com um custo direto quase inexistente. Mas há sim custos relacionados a propagar mentiras.
O primeiro custo, ou revés, é reduzir a confiança nas informações verdadeiras. São tantas as mentiras que, ao nos depararmos com textos e matéria verdadeiros, nos questionamos se é realmente verdade. E acabamos por dedicar muito tempo buscando comprovar a veracidade da informação que recebemos. Este até é um hábito saudável… ah se todos pesquisassem antes de repassar alguma informação…
O segundo custo é relacional: incide nos canais de comunicação familiares ou entre amigos. Nossos grupos de WhatsApp em feeds de mídias sociais são invadidos diariamente por um tsunami de reposts, compartilhamentos, encaminhamentos – na maioria das vezes nunca verificados ou checados por quem repassa. Os grupos passam a se tornar cada vez menos interessantes, e deixamos de ler ou seguir os encaminhadores… grupos se esvaziam, perdemos a chance de acompanhar/seguir amigos e familiares.
O terceiro custo é de imagem pessoal: quem repassa constantemente conteúdos sem pesquisar a origem e veracidade corre o risco de ser visto como alguém descuidado ou, mais grave, ser associado à uma opinião distorcida e mentirosa sobre vários temas.
Os meios adequados à obtenção de qualquer vantagem
Esta é a definição de política para Thomas Hobbes – e assim como a citação de Goebbels do início deste artigo, não poderia ser mais atual. Políticos cada vez mais utilizam do artifício da mentira para confundir, dividir, conquistar.
É tudo tão descabido, que alguns políticos mentem ao se referir à pronunciamentos anteriores – dependendo da reação do público em geral. Donald Trump recentemente afirmou ser “a pessoa menos preconceituosa que já existiu” quando foi criticado por ter feito um pronunciamento preconceituoso. No Brasil, recentes escândalos poderiam ser roteiro de comédia stand-up: uma mala cheia de dólares encontrada na mala do automóvel e a resposta é “nunca vi, não sei do que você está falando” – e ficou por isso mesmo.
Algumas mentiras não sabemos se foram criadas pelo político e sua equipe, ou se alguém acordou com vontade de “fazer o bem” ao seu político de estimação. Li um repasse do repasse do repasse de uma mensagem que afirmava que o atual presidente brasileiro (Jair Bolsonaro) havia encomendado à Maurício de Souza uma cartilha anti-drogas para educar crianças. Recebi fisicamente estas cartilhas há quase 10 anos, quando gerenciava um projeto no Nordeste do Brasil.
Em outros casos, é possível antecipar a enxurrada de desdobramentos de uma mentira. Recentemente assisti à um pronunciamento de Jair Bolsonaro afirmando (sem nenhuma evidência ou prova) que as queimadas na floresta amazônica foram provocadas pelas ONGs ambientais que, ao terem recursos governamentais cortados (inclusive os internacionais, por bloqueio do governo brasileiro), resolveram atacar o seu governo, queimando a floresta. Poucas horas depois defensores do governo já usavam esta afirmação em debates online e conversar privadas. Ao questionar a veracidade, a resposta era: “se o presidente falou, é porque alguma verdade dever ter… tem algo aí… sempre tem…”.
Hobbes defendia a ideia segundo a qual os homens só podem viver em paz se concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. Estamos (coletivamente) nos submetendo a seguir e acreditar em qualquer coisa que nos é dita.. sem pesquisar, questionar, refletir, pensar…
De onde menos se espera…
…é daí mesmo que vem nada. Ou não deveria vir!
Exercitando meu lado otimista, gosto de pensar que há uma luz no fim do túnel. O próprio debate da mentira já se espalha e a esperança é que contagie… num movimento em que todos comecem a pesquisar, buscar a origem e veracidade, e refletir antes de retransmitir qualquer informação.
Goebbels também disse: “There will come a day when all the lies will collapse under their own weight, and truth will again triumph” (chegará um dia, em que todas as mentiras colidirão com seu próprio peso, e a verdade triunfará novamente).
Só nos resta torcer para que ele também esteja certo nesta sua segunda afirmação… e cabe a cada um de nós quebrar a corrente de disseminação de novas mentiras.