Em outro artigo, tratamos da diferença entre pressuposto, problema e risco. Para este último, vamos aprofundar a discussão, descrevendo estratégias ou formas de responder a riscos que venham a ocorrer.
Abaixo estão algumas características de um projeto fictício:
- Meu projeto recebe recursos de um financiador dos Estados Unidos, o câmbio está muito instável nos últimos meses;
- Serão realizadas oficinas em municípios do interior, onde a energia oscila bastante, e há muitos apagões;
- Realizaremos uma mobilização comunitária, cuja expectativa é usar meios de comunicação da comunidade, mas ainda não temos certeza do apoio que receberemos da rádio comunitária e jornal local;
- Serão construídas 50 casas em uma região montanhosa, em um período com chuvas alternadas, mas não temos opção de adiar para o verão em virtude de requerimento do financiador.
Okay. Eu sei que meu projeto tem diversos riscos… mas… o que fazer?
Para cada um dos riscos, é preciso decidir entre 04 opções ou estratégias de resposta, e assim elaborar planos de ação baseados na estratégia escolhida. Você pode ainda combinar estas opções para resposta a um mesmo risco.
- Evitar o risco: não faça (ou faça de um modo diferente)
- Transferir o risco: compartilhar o risco com outros atores
- Mitigar o risco: reduzir a probabilidade e/ou o impacto do risco
- Aceitar o risco: se a probabilidade percebida e o impacto do risco forem avaliados como aceitáveis, ou simplesmente se não for possível adotar nenhuma das outras estratégias.
Você já foi a um casamento, festa de debutantes, e se deparou com o garçom a servir uma bela porção de azeitonas, não?! Calma, antes que você se pergunte se eu estava bebendo algo (muito forte) e comendo azeitonas quando escrevi este artigo… eu vou me explicar.
Comer azeitonas em uma festa qualquer tem um risco inerente que é o de você encher sua mesa de caroços de azeitona, passando por um embaraço perante os demais convidados… e o dono da festa, claro.
Neste caso, você precisa adotar uma das estratégias de resposta a riscos, antes mesmo de iniciar sua atividade – que é esbaldar-se em azeitonas…
- Evitar o risco: não com azeitonas. Se contenha com coxinhas, sanduíches de atum, ou aquele empanado que a gente nunca consegue adivinhar qual era o recheio.
- Transferir o risco: ao pegar sua cota de azeitonas da bandeja do garçom, caminhe elegantemente pelo salão, sente na companhia de amigos ou mesmo desconhecidos, e coma as azeitonas. Ao deixar pequenas parcelas de caroços nas mesas dos outros, você está transferindo o risco de passar vergonha para os ocupantes destas mesas.
- Mitigar o risco: reduza a probabilidade de alguém ver os caroços na sua mesa, jogando embaixo da mesa… ou reduza o impacto: enrole cuidadosamente em guardanapos e coloque na mesa – vai ficar feio… mas um pouco menos embaraçoso.
- Aceitar o risco: coma as azeitonas, coloque os caroços sobre a mesa, e os outros que pensem o que quiserem. Afinal, você nem é amigo do dono da festa…
Esta foi apenas uma brincadeira para exemplificar, de forma lúdica, as quatro opções de estratégias de resposta a riscos. Voltando aos exemplos do início do artigo, vejamos alguns exemplos de estratégias de resposta:
Risco |
Estratégia |
Descrição |
Risco da variação cambial reduzir meu aporte de recursos mensal | Transferir | Realizar um contrato de Hedge junto a um Banco, para garantir fechamento de câmbio estável.Os bancos comerciais possuem um serviço, chamado Contrato de Hedge, onde o recebedor de recursos estrangeiros pode “fechar” uma taxa de câmbio por um período de tempo (um ano, seis meses). Qualquer variação do câmbio será absorvida pelo banco. Obviamente, este serviço é pago… |
Risco de apagão ou queda de energia durante oficinas de capacitação que utilizam projetor multimídia | Mitigar | Levar material impresso (diagramas, fotos) e ter à disposição flip-chart quadro branco. Caso a energia seja cortada, o impacto será reduzido – pois a capacitação ainda acontecerá, mesmo que sem os recursos multimídia que a enriquecem. |
Risco de não termos apoio dos meios de comunicação local para a mobilização a ser realizada | Evitar | Escolher outra forma de realizar a mobilização – através da contratação de um carro de som e de uma passeata com voluntários e uma banda de música. |
Risco de chuvas durante a construção das casas | Aceitar | Como não é possível alterar o período da construção, por requerimento do financiados, a solução é aceitar o risco, no caso da ocorrência de chuvas, informar ao financiador os impactos no cronograma e orçamento do projeto. É importante, porém que o financiador esteja ciente deste risco (por escrito), mesmo que ele não aceite alterar o período. |
Por fim, devemos ter em mente que não adianta identificar, priorizar e elaborar planos de resposta a riscos, se não monitorarmos como anda a probabilidade deste risco acontecer, e se o impacto esperado sofreu alguma mudança. Estas mudanças podem alterar a prioridade de monitoramento e de resposta a este risco. Além disto, mudanças no ambiente mais amplo do projeto podem sugerir que a estratégia de resposta seja reformulada.
(sugerimos a leitura do Guia PMDPro, Disciplina 4: Gerenciamento de riscos, para aprofundar o conhecimento sobre riscos, principalmente no que diz respeito à Identificação, avaliação, priorização, planejamento de resposta, controle e monitoramento de riscos)