Durante recente participação em uma turma de capacitação PMDPro 2 ocorreu um frutífero debate sobre a possíveis formas de abordagem para diagnóstico em uma comunidade onde se pretende desenvolver um projeto. Frutífero… ao tratarmos da árvore de problemas acabamos por concluir que tentar identificar o problema central ou prioritário pode dar frutos (problemas) demais.
Segundo PMDPro, em uma abordagem das necessidades baseadas em problemas, a primeira pergunta feita para a comunidade é “quais são os problemas que vocês têm?”. Para quem já realizou este tipo de diagnóstico sabe que, provavelmente, receberemos um turbilhão de respostas, nas mais variadas áreas e graus de complexidade. Muitas vezes acaba se tornando impossível encontrar um problema central, ou priorizar um problema, se esta pergunta for feita da forma errada ou para um grupo/comunidade que se encontra desmotivado, desiludido, desconfiado, ou simplesmente estressado.
Se o diagnosticador representar uma instituição de financiamento ou já for de conhecimento de todos que há uma oportunidade de financiamento para uma determinada área (educação, saúde, educação financeira, crianças, jovens, idosos, etc.), há ainda um risco enorme que as respostas sejam direcionadas para problemas que a comunidade acredita que serão atendidas pelo financiador ou oportunidade – mesmo que os problemas relacionados não sejam considerados prioritários para serem abordados.
A solução é utilizar uma abordagem positiva, através de investigação apreciativa e/ou de abordagem baseada em ativos. Em um primeiro contato com a comunidade, ao se evitar trazer à tona problemas e trabalhando na identificação de pontos positivos desenvolve-se um sentimento de busca pelo melhor, e não se caracteriza a(s) reunião(ões) iniciais como mais uma reunião para falar de problemas…
Outra coisa importante é que a abordagem baseada em ativos cria um ambiente muito bom para começar o trabalho em uma comunidade, porque da o senso de valorização das iniciativas comunitárias e do que já foi previamente desenvolvido.
Segundo Antonio Carlos Valença (Método de investigação apreciativa da ação-na-ação:teoria e prática de consultoria reflexiva. Recife: Bagaço, 2007), em sua origem, o Método da Investigação Apreciativa era uma proposta técnica voltada para a perspectiva da oportunidade, em contraposição à tendência de se fazer diagnósticos organizacionais numa perspectiva deficitária, que costumava ler qualquer situação como a necessidade de “resolução de um problema”.
O ponto mais importante, ou fundamento, da investigação apreciativa é o diálogo pessoal com os membros da comunidade, utilizando perguntas relacionadas a experiências exitosas e à fortalezas e oportunidades da comunidade.
Ou seja, deve-se realizar observação, entrevistas, reuniões, e aplicar ferramentas como FOFA (apenas as fortalezas e oportunidades), brainstorming, questionários semi-estruturados, para se coletar informações relacionadas a:
Alianças e parcerias | Espírito coletivo | Pontos fortes dos indivíduos |
Bens financeiros | Fidelidade de clientes | Pontos fortes na cadeia de valor |
Bens Técnicos | Inovações inéditas | Recursos relacionais |
Capacidade de liderança | Linha de produtos | Sabedoria da organização |
Capital social | Macrotendências positivas | Valores vividos |
Competências centrais | Melhores práticas | Vantagens estratégicas |
Conhecimento agregado | Oportunidades estratégicas | Visões de futuros positivos |
Emoções positivas | Pensamentos elevados | Visões de possibilidades |
A escolha de que aspectos investigar dependerá do foco de atuação da sua organização e da oportunidade que se tem em vista para elaboração de uma proposta de projeto. Até mesmo ferramentas como Diagrama de Venn e Matriz de Análise de Partes Interessadas podem ser utilizadas e adaptadas para obter como resultado a tabulação das informações descritas anteriormente.
Para que se chegue ao desenho de um projeto/proposta a partir da investigação apreciativa, pode-se utilizar o Ciclo dos 4 D’s.
- Discovery – Descoberta: o processo em si da observação e escuta, para se consolidar as informações positivas e os pontos fortes. É o princípio do processo de engajamento de todos os envolvidos.
- Dream – Sonho: o que pode ser?. Fortalece o envolvimento de todos os envolvidos e cria uma visão clara do que se deseja para o futuro.
- Design – Desenho: Como então selecionar o que é possível, a partir do sonho. Como poderemos chegar lá? Fortalece ainda mais o engajamento através da co-criação de uma proposta ou projeto.
- Destiny – Destino: executar o projeto, um processo de aprendizado contínuo.
Em uma correlação entre os 4 D’s com o PMDPro, podemos dizer que Discovery e Dream se referem à fase de Identificação; Design se refere à fase de Desenho, Definição e Planejamento; e Destiny se refere às fases de Execução, Monitoramento.
Esta abordagem tem por fundamento identificar quais são os ativos existentes, e como eles podem ser melhorados. Nesta abordagem é comum uma mescla de positivo com negativo, como por exemplo: quais são os ativos que não estão sendo bem utilizados na comunidade, como praças públicas, a praia, clubes recreativos e de servir, espaços de saúde, segurança, de reunião; quais são os conhecimentos, capacidades, recursos humanos e materiais que estão sendo sub aproveitados?
Gostei bastante de uma exemplificação da abordagem baseada em ativos que encontrei na apresentação da Sarandira Criativa, que a definiu como “reuniões colaborativas em volta de uma mesa de cozinha ajudando a desenvolver ideias de dentro da comunidade”. Como a própria apresentação destaca que estas reuniões devem permitir criar inventários para revelar as capacidades existentes na comunidade, as habilidades, espaços e materiais disponíveis.
A partir de uma identificação dos ativos, inicialmente, cria-se um ambiente positivo. A criação de propostas de melhoria destes espaços ou do uso mais apropriado dos recursos humanos e materiais é mais facilmente abraçada por todos uma vez que não se tem a sensação de estar “partindo do zero”.
Muitas das ferramentas e técnicas do PMDPro, como Diagrama de Venn, Matriz de Análise das Partes Interessadas, FOFA, TEOP, entre outros, podem ser utilizados para uma abordagem baseada em ativos. Pode-se ainda utilizar os conceitos apresentados na Investigação Apreciativa.
Em suma, trabalha-se com a pergunta “Como é?”, sempre focando no positivo. Em seguida, busca-se responder “Como poderia ser?”.
Por fim, podemos acrescentar que uma abordagem positiva pode ajudar na escrita de uma proposta para financiamento. Baseia-se o projeto (Marco Lógico) no problema, mas, ao indicar fatores de sustentabilidade, pode-se usar o que foi identificado como ativos/fortalezas.