O Comércio Justo não “ajuda” pequenos produtores e artesões

Na região sul da Índia, mais especificamente nos Estados de Tamil Nadu, Andhra Pradesh e Keral, os pedintes nas ruas vêem até você e dizem: “Dharmam”. A tradução desta expressão está longe de ser “uma esmola, por favor”.

Recepção em comunidade indiana, Kanchepuram, Tamil Nadu

Dharmam (Dharma em hindu e em sânscrito) significa justiça. Os pedintes, ou as pessoas necessitadas, clamam por justiça. Justiça na divisão das riquezas, no acesso a direitos básicos e fundamentais, nas oportunidades e no espaço para crescer.

Mas não é através desta justiça – a esmola – que será possível alterar as condições sociais e financeiras dos menos favorecidos no Sul da Índia. Não é esta justiça pontual que transformará sua vida. Da mesma forma, não é essa justiça, essa “ajuda”, que o Comércio Justo almeja alcançar, seja na Índia, no Brasil, ou em qualquer outro país.

Ajudar? Não compre meu jogo americano para me ajudar. Compre porque você precisa de um jogo americano, porque meu produto é de ótima qualidade, e porque é o jogo americano mais bonito que você achou”.

Esta frase ilustra o sentimento dos produtores e artesãos quando consumidores buscam produtos artesanais ou da agricultura familiar apenas para “ajudar”. Compras que são feitas para ajudar são aquisições pontuais, que acontecem apenas uma vez, e nunca mais se repetem. São compras que acontecem sem existir a necessidade pelo produto e sem o reconhecimento pela qualidade do produto.

Ninguém compra artesanatos supérfluos: “- Comprei aquela blusa porque é bonita, tem boa qualidade, e está na moda”; “- Comprei aquele chaveiro, bumba-meu-boi, conjunto de bonecos de cerâmica, porque são artesanatos que representam a cultura de um local que visitei e levo-os como lembrança para mim, ou para alguém que gosto”; “- Comprei aquele vaso, tapete ou quadro porque ficará perfeito em minha sala, combinando com a decoração”.

Ninguém compra produtos da agricultura familiar por pena dos produtores: “- Comprei frutos porque são tratados sem agrotóxicos”; “- Comprei legumes e verduras porque são manuseados pelos produtores como se eles estivessem alimentando sua própria família”.

Este erro de compreensão por parte dos consumidores finais muitas vezes acontece pela confusão entre os termos Solidariedade e Caridade. Não vou aqui me ater a estudar a semântica destes dois termos. Comércio Justo e Solidário não é comércio para caridade.

Alguns mitos:

Comércio Justo é uma forma de caridade

Acredito que os exemplos acima já provam que esta afirmação é absolutamente equivocada. Comércio Justo é sim uma forma diferenciada de enxergar seu fornecedor. É saber que está comprando um produto e que aquele valor vai para as mãos do artesão, do produtor, e não para as mãos de um atravessador.

Produtos de Comércio Justo são mais caros para o consumidor

Se o produto de comércio justo for mais caro é porque a qualidade dele é melhor. Nenhum varejista se arriscaria a colocar um produto em sua prateleira com selo de comércio justo, com um valor alto, se acreditasse que o produto não vale aquele preço – ele jamais faria estoque em prateleiras. Convido os leitores a observar a qualidade de frutas e flores nas prateleiras dos supermercados Tesko, Co-Operative e Sainsbury’s nas bucólicas ruas de Londres: todos os produtos com selo FairTrade têm qualidade visivelmente superior aos produtos convencionais.

Produtores e artesãos não devem ter lucro

Gostaria de conhecer o empresário onde o cálculo do preço de venda de seu produto é feito de forma a pagar todos os custos fixos, variáveis, e “sobrar” um valor que seria seu salário pessoal. Por que haveria de ser diferente com a agricultura familiar ou artesãos? Estes também são empreendimentos que necessitam de lucro para investimento, troca de maquinário ou aquisição de novas máquinas, testes e elaboração de novos produtos, amostras, riscos, inadimplências, mudanças climáticas que geram perdas, etc.

Produtos artesanais tem menos qualidade e são mais frágeis

As associações de comerciantes na maioria dos shoppings de Recife proibiram a realização de feiras de artesanato nos corredores, ou mesmo em áreas do shopping específicas para eventos. A principal razão é que eles perceberam que os consumidores deixaram de comprar os produtos nas lojas para comprar nas feiras. Para ajudar? Claro que não. Compram porque são produtos de excelente qualidade, muitas vezes com preços mais acessíveis.

O pequeno produtor e o pequeno artesão:

Para finalizar gostaria de remeter o leitor ao título deste texto e a uma reflexão sobre o pequeno produtor ou pequeno artesão.

Recentemente ouvi alguém corrigir um consultor quando ele se referiu a uma pessoa como micro-empresário. Não existem micro-empresários, existem empresários de micro-empreendimentos.

Não existe pequeno produtor, pequeno artesão. São produtores e artesãos de pequenas propriedades ou de pequenos ateliês ou oficinas, mas cujo profissionalismo, cuidado e qualidade muitas vezes superam (e muito!) os grandes latifúndios e as indústrias.

Na região sul da Índia, mais especificamente nos Estados de Tamil Nadu, Andhra Pradesh e Keral, os pedintes nas ruas vêem até você e dizem: “Dharmam”. A tradução desta expressão está longe de ser “uma esmola, por favor”.

Dharmam (Dharma em hindu e em sânscrito) significa justiça. Os pedintes, ou as pessoas necessitadas, clamam por justiça. Justiça na divisão das riquezas, no acesso a direitos básicos e fundamentais, nas oportunidades e no espaço para crescer.

Mas não é através desta justiça – a esmola – que será possível alterar as condições sociais e financeiras dos menos favorecidos no Sul da Índia. Não é esta justiça pontual que transformará sua vida. Da mesma forma, não é essa justiça, essa “ajuda”, que o Comércio Justo almeja alcançar, seja na Índia, no Brasil, ou em qualquer outro país.

“Ajudar? Não compre meu jogo americano para me ajudar. Compre porque você precisa de um jogo americano, porque meu produto é de ótima qualidade, e porque é o jogo americano mais bonito que você achou”.

Esta frase ilustra o sentimento dos produtores e artesãos quando consumidores buscam produtos artesanais ou da agricultura familiar apenas para “ajudar”. Compras que são feitas para ajudar são aquisições pontuais, que acontecem apenas uma vez, e nunca mais se repetem. São compras que acontecem sem existir a necessidade pelo produto e sem o reconhecimento pela qualidade do produto.

Ninguém compra artesanatos supérfluos: “- Comprei aquela blusa porque é bonita, tem boa qualidade, e está na moda”; “- Comprei aquele chaveiro, bumba-meu-boi, conjunto de bonecos de cerâmica, porque são artesanatos que representam a cultura de um local que visitei e levo-os como lembrança para mim, ou para alguém que gosto”; “- Comprei aquele vaso, tapete ou quadro porque ficará perfeito em minha sala, combinando com a decoração”.

Ninguém compra produtos da agricultura familiar por pena dos produtores: “- Comprei frutos porque são tratados sem agrotóxicos”; “- Comprei legumes e verduras porque são manuseados pelos produtores como se eles estivessem alimentando sua própria família”.

Este erro de compreensão por parte dos consumidores finais muitas vezes acontece pela confusão entre os termos Solidariedade e Caridade. Não vou aqui me ater a estudar a semântica destes dois termos. Comércio Justo e Solidário não é comércio para caridade.

Alguns mitos:

Comércio Justo é uma forma de caridade

Acredito que os exemplos acima já provam que esta afirmação é absolutamente equivocada. Comércio Justo é sim uma forma diferenciada de enxergar seu fornecedor. É saber que está comprando um produto e que aquele valor vai para as mãos do artesão, do produtor, e não para as mãos de um atravessador.

Produtos de Comércio Justo são mais caros para o consumidor

Se o produto de comércio justo for mais caro é porque a qualidade dele é melhor. Nenhum varejista se arriscaria a colocar um produto em sua prateleira com selo de comércio justo, com um valor alto, se acreditasse que o produto não vale aquele preço – ele jamais faria estoque em prateleiras. Convido os leitores a observar a qualidade de frutas e flores nas prateleiras dos supermercados Tesko, Co-Operative e Sainsbury’s nas bucólicas ruas de Londres: todos os produtos com selo FairTrade têm qualidade visivelmente superior aos produtos convencionais.

Produtores e artesãos não devem ter lucro

Gostaria de conhecer o empresário onde o cálculo do preço de venda de seu produto é feito de forma a pagar todos os custos fixos, variáveis, e “sobrar” um valor que seria seu salário pessoal. Por que haveria de ser diferente com a agricultura familiar ou artesãos? Estes também são empreendimentos que necessitam de lucro para investimento, troca de maquinário ou aquisição de novas máquinas, testes e elaboração de novos produtos, amostras, riscos, inadimplências, mudanças climáticas que geram perdas, etc.

Produtos artesanais tem menos qualidade e são mais frágeis

As associações de comerciantes na maioria dos shoppings de Recife proibiram a realização de feiras de artesanato nos corredores, ou mesmo em áreas do shopping específicas para eventos. A principal razão é que eles perceberam que os consumidores deixaram de comprar os produtos nas lojas para comprar nas feiras. Para ajudar? Claro que não. Compram porque são produtos de excelente qualidade, muitas vezes com preços mais acessíveis.

O pequeno produtor e o pequeno artesão:

Para finalizar gostaria de remeter o leitor ao título deste texto e a uma reflexão sobre o pequeno produtor ou pequeno artesão.

Recentemente ouvi alguém corrigir um consultor quando ele se referiu a uma pessoa como micro-empresário. Não existem micro-empresários, existem empresários de micro-empreendimentos.

Não existe pequeno produtor, pequeno artesão. São produtores e artesãos de pequenas propriedades ou de pequenos ateliês ou oficinas, mas cujo profissionalismo, cuidado e qualidade muitas vezes superam (e muito!) os grandes latifúndios e as indústrias.

Um comentário em “O Comércio Justo não “ajuda” pequenos produtores e artesões

  1. PARABÉNS EDSON!
    ENFIM UM BLOG DE QUALIDADE, COM MATÉRIAS QUE NOS LEVAM A REPENSAR CONCEITOS, ENQUANTO DIFUNDE UMA CULTURA PRESENTE, EM EVIDÊNCIA.
    JOSÉ GERALDO

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